Pesquisa revela: 58% querem abandonar o tráfico, mas falta oportunidade
- Lucas Brandão

- 17 de nov.
- 3 min de leitura
Questionário considerou respostas de quase 4 mil pessoas de 23 estados

Entre quase 4 mil pessoas envolvidas com o tráfico de drogas entrevistadas em uma pesquisa do Instituto Data Favela divulgada nesta segunda-feira (17), a maioria (58%) gostaria de deixar voluntariamente essa condição caso pudesse garantir o sustento econômico e a estabilidade pessoal.
Em contrapartida, ao responderem à pergunta “Se você tivesse uma oportunidade de deixar o que faz hoje no crime, você sairia?”, outros 31% disseram que não sairiam dessa situação.
Esses dados fazem parte da pesquisa Raio-X da Vida Real, realizada pelo instituto, ligado à Central Única das Favelas (CUFA), no período entre 15 de agosto de 2025 e 20 de setembro de 2025, em favelas de 23 estados.
Ter condições de abrir o próprio negócio seria o atrativo necessário para deixar o crime na avaliação de 22% dos entrevistados, enquanto 20% apontam um trabalho com carteira assinada.
Apesar de a maioria dos entrevistados em nível nacional responder que sairia do crime, a análise por estado traz algumas situações diferentes. No Ceará, 44% não deixariam o crime se pudessem, enquanto 41% sairiam.
No Distrito Federal, a diferença é ainda maior: apenas 7% disseram que sairiam, enquanto 77% permaneceriam. Em Minas Gerais, foram 40% dizendo que deixariam a situação e 57% afirmando que não.
Remuneração
Conforme a pesquisa, a remuneração é o principal motivo para a permanência no crime. 63% dos entrevistados declararam que recebem até dois salários mínimos (R$ 3.040) mensais na atividade criminal, sendo que a renda média mensal é de R$ 3.536,00. Para 18%, não sobra dinheiro no fim do mês.
“A maior parte deles está colocada nas faixas mais baixas de renda, e isso puxa a média para baixo”, apontou o diretor técnico do Instituto Data Favela e cientista político, Geraldo Tadeu Monteiro, durante entrevista de divulgação da pesquisa transmitida no canal da CUFA no YouTube.
“Com mais dinheiro, se revela uma grande armadilha, porque, na verdade, o custo-benefício de entrar no crime acaba sendo muito pequeno, uma vez que as pessoas acabam recebendo pouco entrando em uma vida de muito risco e dificuldades.”
Entrada no crime
A falta de uma situação econômica mais favorável também é o motivo declarado pelos entrevistados para a entrada no crime.
“Exatamente porque recebem pouco dinheiro, essas pessoas entram, por necessidade econômica, acreditando que aquele dinheiro vai ser suficiente para uma vida melhor, e logo descobrem que não é bem assim”, completou o diretor técnico.
O estudo mostrou que essas pessoas procuram outra atividade simultânea para complementar renda. De acordo com os dados, 36% dos que responderam ao estudo disseram que possuem alguma outra atividade laboral remunerada, provavelmente em razão dos baixos ganhos nas atividades ilícitas, informou o instituto.
“42% dos entrevistados disseram que fazem bicos. A gente percebe que é uma atividade esporádica, em geral mal remunerada”, informou, acrescentando que, na sequência, 24% responderam que partem para empreendimentos como uma barraquinha de alimentação ou até uma oficina mecânica.
Os números mostraram ainda que 16% desenvolvem trabalhos com carteira assinada em paralelo ao crime, 14% ajudam em empreendimentos de amigos e 3% trabalham em algum projeto social.
Entrevistas
Das 5 mil entrevistas presenciais realizadas nos locais onde se desenvolvem atividades criminosas do tráfico de drogas, 3.954 foram consideradas válidas. Foi respondido um questionário de 84 perguntas, e os percentuais obtidos têm margem de erro de 1,56 ponto percentual, com nível de confiança de 95%.
“Trata-se do maior levantamento já conduzido com pessoas em situação de crime (tráfico de drogas) em atividade, trazendo dados sobre perfil, renda, trajetória, profissão, sonho, família, saúde, consumo e expectativas”, informou o Data Favela.
Perfil
O Raio-X da Vida Real indicou que:
79% dos que responderam à pesquisa são homens;
21% são mulheres;
menos de 1% se declarou LGBTQIAPN+;
74% são negros;
50% são jovens entre 13 e 26 anos;
80% nasceram e cresceram na mesma favela;
50% têm companheiro(a);
70% são de religiões de matriz africana, católica ou evangélica;
52% têm filhos;
42% não completaram o ensino fundamental.
A mãe é a figura mais importante para 43% dos entrevistados e, junto de avós, tias e companheiras, as referências femininas chegam a 51% dos vínculos afetivos mais citados. Já para 22%, as figuras mais importantes são filhos ou filhas.
Além disso, 84% afirmam que não deixariam um filho entrar para o crime.
Fonte: Agência Brasil
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